Na roça a lua
vive juntinho da gente .
Como uma bisavó .
Chegou muito ,
muito antes .
Confrade de confissões
e segredos .
É da família .
Se diz :
-“nossa a lua não saiu hoje “
-“ gente olha a lua.”
-“ como está linda.”
-“ a lua está cheia .
vamos cortar o cabelo.”
-“ o bebê vai nascer.
a lua muda
essa noite .”
Há os encontros a sós com ela .
Celebrações :
Procuram-se locais afastados do fervilhar das luzes e sons da cidade.
( se vê o redemoinho urbano ao longe )
São muitos
os cantos fraternos ,
cheios de encanto e graça :
vicinais &
áreas próximas às fazendas
& chácaras
& sítios
& às beiradas dos vales –
em que o vento frio faz nascer maçãs vermelhas no rosto .
Em noites de lua cheia o silêncio se ajoelha para ela .
Vênus enfeitiçada declama Bilac . Via láctea .
As estrelas violonistas espalham pelo ar as notas líricas do poema Se eu quiser falar com Deus ,e acordam Elis Regina que do céu afina a voz .
Em prece as corujas chirrem.
Por vezes ,
ansiosa para encontrar o acalanto que a gente da roça lhe dá ,
chega cedo .
Antes do jantar .
De dia .
O azul do céu nem bem amarrou as botinas para partir , ainda se espreguiça sob a fronde da doce mangueira.
Mas resigna-se e acata .
Dona de si .
À noite é dela .
Imagem ( foto – Luisa Oléa )