em casa
às três da manhã
me vi no jardim
límbico
donde as crianças
riem, farfalham, riem
no vai e vem
do balanço da noite interminável
avistei por entre a neblina
todo o gramado
e ela
uma macieira
como um oceano
não questiona
permanece
também ela
convicta existia
nutriz robusta
de seus seios
deitava seiva
hemácias hospedeiras das
batalhas
e paixões
dos ancestrais
como um leão
não questiona
ruge
ela convicta existia
o brado de Kazantzákis
dos seus ramos
as maçãs aconteciam
eram muitas
vermelhas
macias
suculentas
orvalhavam o licor sagrado
como a harpia
não questiona
liberta as asas
e ama o céu
ela convicta existia
os meus olhos ressequidos
pelas tempestades de areia
verteram água
um balde transbordante
vindo das profundidades
do Poço de Sicar
água de fé
benzida do fundo do poço