O curador de uma das mostras
de Lucian Freud dIz
ter ficado atordoado ao se ver retratado pelo artista . Estavam expostas na tela todas as dores que ele presumia não serem visíveis .
O corpo traz as marcas da
leveza com que as mãos maternas tocaram nossa pele matizada de infância (ou não ) , e da brutalidade dos infernos por onde passamos .
O corpo guardião de nossas batalhas íntimas.
Tenho visto um coro caçoando da expressão adoecida do atual ministro da saúde .
Discutir a competência profissional é uma coisa , ridicularizar uma pessoa por seu padecimento é outra .
Ademais a dor humana sempre dói em mim .
Isso não tem nada a ver com
inclinação partidária .
Tem a ver com o compadecimento diante do humano demasiado humano .
Nossa parte precária depomos em
troças e caricaturas sobre a face lânguida de um outro que fenece .
Talvez doa muito em nós a pobre e frágil humanidade – nossa masmorra .
Me lembrei de Hilda Hilst que em
certa entrevista contou ficar sempre ao lado da vítima .
Nesse caso antes das minhas concepções políticas estão as minhas concepções humanas .
(Figura reclinada -1994- Lucian Freud)